22 de mar. de 2007

AS LEIS SANITÁRIAS DE MOISÉS

1.“Foi outrora proporcionado aos Hebreus um conhecimento incomum em matéria de medicina, por meio de seu profeta Moisés. Rudolph Virchow, conhecido como ‘pai da patologia moderna’, disse: ‘Moisés foi o maior higienista que o mundo já viu’. Dependendo de conhecimento revelado e destituído de equipamento científico, Moisés ensinou, em seus pontos essenciais, quase todos os princípios de higiene praticados hoje. Entre eles encontramos a prevenção de doenças, desinfecção pelo fogo e pela água, controle epidêmico mediante denúncia e isolamento dos portadores de doenças contagiosas, seguida de completa desinfecção de todos os objetos possivelmente contaminados. O asseio pessoal era imposto, e obrigatório o sistema de esgoto, de maneira que o arraial dos judeus era asseado como o são as cidades modernas. Conquanto se provesse exercício físico, impunham-se freqüentes períodos de descanso e relax para evitar o excesso de trabalho”. – Dr. Owen S. Parrett, Diseases of Food Animals, p. 7 (Southern Publishing Assn., Nashville, Tenn., 1939).

“Os hebreus eram antigamente o povo mais asseado, e mesmo hoje seus padrões antigos não dão muita margem para aperfeiçoamento. O israelita tomava pelo menos um banho por semana, pois era-lhe ordenado fazer uma limpeza geral na véspera do Sábado. Se um doente cuspisse numa pessoa, esta tinha de banhar-se. (Lev. 15:8). Era obrigatório o banho para a pessoa que tocasse num cadáver, quer animal, quer humano”. – Charles D. Willis, “Moses and Medicine”, em Signs of the Times, 17 de abril, 1951, p. 6.
“Moisés ordenou que todas as pessoas portadoras de doenças contagiosas fossem isoladas. Por certo que a ciência não pode aperfeiçoar esta praxe. Não só ao paciente era imposta a quarentena, mas a todos os que com ele tinham tido contato” – Ibidem.

2. O estudo meticuloso dos escritos de Moisés revela conceitos médicos e princípios sanitários muito avançados em relação aos que prevaleciam em seus dias. Quanto à função do sistema circulatório: “A vida da carne”, escreveu ele, “está no sangue”. Lev. 17:11.

O médico britânico Dr. Wm. Harvey (1578-1657), conseguiu pela primeira vez rastrear o sistema circulatório no organismo humano: O sangue é o veículo da vida. Essa descoberta é considerada um marco notável na ciência médica, entretanto o mesmo princípio já se achava incorporado no texto acima dos escritos de Moisés, há mais de 3.000 anos.

Moisés e o isolamento

3. O eminente cientista francês Louis Pasteur (1822-1895), o “pai da bacteriologia”, foi o primeiro a descobrir alguns segredos da vida microbiana. Essa descoberta revolucionou a moderna terapêutica médica; e baseados neste importante aperfeiçoamento, os princípios do isolamento foram adotados e aplicados, sendo que Moisés já havia dedicado dois capítulos inteiros, Lev. 13 e 14, orientando sobre os princípios que deveriam ser tomados em caso de enfermidades (como a lepra - que era o flagelo do Oriente).

A Cirurgia Moderna e os Escritos de Moisés
4. A cirurgia moderna “nasceu” em 1842, quando o Dr. Crawford W. Long pela primeira vez aplicou a anestesia, por ele inventada.

5. Entretanto, mesmo a cirurgia moderna e seu uso da anestesia encontram um ilustre precedente nos escritos de Moisés. Em Gên. 2:21, 22, encontramos:

“Então o Senhor D’us fez cair pesado sono sobre o homem, e este adormeceu; tomou uma das suas costelas, e fechou o lugar com carne. E a costela que o Senhor D’us tomara ao homem, transformou-a numa mulher, e lha trouxe”.

6. D’us efetuou essa operação, aplicando a “anestesia” – “o Senhor fez cair pesado sono sobre o homem, e este adormeceu” – no paciente, Adão. Convém lembrar que isso que pode ser chamado cirurgia se efetuou cerca de 6.000 anos antes que a ciência médica sequer sonhasse com as potencialidades da cirurgia.
Alimentos Limpos e Alimentos Imundos

7. As leis dietéticas de Moisés estão registradas em Lev. 11 e Deut. 14. faria bem a humanidade se descartasse todos os alimentos aí proibidos.

8. “Quanto aos crustáceos, o tifo atribuível à ingestão de ostras infectadas é tão comum que dispensa comentário, e do uso de lagostas, caranguejos e outros alimentos proibidos resultam não infreqüentemente casos graves e às vezes fatais de indigestão aguda, provando a base higiênica e a justeza das instruções dadas por Moisés”.Dr. O. S. Parrett, Diseases of Food Animals, p. 8

Quanto aos peixes que não tenham escamas nem barbatanas, “o Dr. Davi Macht, notável autoridade em matéria de tóxicos de drogas e animais, espremeu os tumores orgânicos de 70 espécies de peixes e os injetou em ratos, usando-os também em plantas novas. Extratos dos tecidos de peixes tóxicos mataram alguns dos ratos e retardaram o crescimento das plantas. Constatou-se que os extratos de peixes comestíveis não tinham efeitos nocivos, nem em ratos nem em plantas. Analisados os resultados desse estudo, descobriu-se que todos os extratos tóxicos provinham de peixes sem escamas, e em alguns casos também sem barbatanas. Concluiu o Dr. Macht: ‘Parece existir alguma base científica para a antiga classificação de peixes comestíveis e não comestíveis, isto é, os que têm escamas e os que não as tem’ – C. D. Willis, “Moses and Medicine”, em Signs of the Times, 17-04-1951, pp. 5, 6.

9. Quando Moisés tirou os filhos de Israel do Egito, para o deserto, deparou-se-lhe o problema de salvaguardar-lhes a saúde. Fê-lo, primeiro de tudo, proibindo o comer vários animais impuros, como o porco, o coelho e os mariscos. Só em 1847 foi que José Leidy descobriu no porco o germe parasita Trichinella spiralis.

10. A carne de porco infectada pela triquina, não cozida suficientemente, muitas vezes produz a triquinose, cujos horrores deviam ser conhecidos de todos. Não menos de uma pessoa dentre cinco, nos Estados Unidos, sofre de alguma forma de triquinose. De quando em quando se lê ou ouve de inteiras famílias que foram extintas por essa temível enfermidade.

11. “Muito rigorosa inspeção dos alimentos era efetuada pelos sacerdotes, que serviam como funcionários sanitaristas. Ainda hoje recorremos a Moisés como autoridade em matéria de alimentos cárneos chamados limpos e imundos. ... nos Estados Unidos a ocorrência da triquinose entre adultos se calcula em 25%, segundo pesquisa de dois médicos de S. Francisco (McNaught e Anderson), publicada no Journal of the American Medical Association. Exames post-mortem feitos por esses médicos em pedaços de músculos do diafragma de 100 corpos, mostraram que 23 tinham triquinas, e em outros 100 puderam demonstrar 25 casos positivos. Durante a vida, nenhuma dessas pessoas tinha suspeitado a triquinose, e no entanto de todas elas, independente da extensão de tempo decorrido desde a infecção, se observaram sob microscópio larvas vivas, enrolando-se e desenrolando-se. De cada cinco lingüiças de porco, dos melhores mercados, uma continha triquinas vivas.” – Dr. O. S. Parett, Diseases of Food Animals, pp. 7, 8.

12. “... Uma jovem de 18 anos ficou tão mal que foi levada ao hospital, onde, devido à grave infestação do diafragma, sua dispnéia se agravou tanto que ela teve que receber inalações de oxigênio três vezes, a fim de conservar a vida. Um pedacinho de músculo tirado de seu deltóide, ou músculo do ombro, acusou infestação de triquinas. Suspeitava-se a princípio que a família tivesse gripe ou reumatismo muscular. Esse erro é provavelmente cometido muitas vezes em casos leves de triquinose, que provavelmente afeta uma pessoa dentre quatro, no campo.” – Ibidem, pp. 8,9

13. “Comida a carne de porco infestada, os germes são pela digestão gástrica, liberados no estômago do hospedeiro, onde se unem machos e fêmeas, seguindo-se a produção de grande número de larvas. Através da corrente do sangue ou dos vasos linfáticos essas larvas rapidamente migram para os tecidos, encontrando alojamento especialmente no músculo do diafragma. Na maioria dos casos são precisos mais de mil larvas para produzir sintomas.” Idem, pp. 9, 10.

14. “No esforço de afastar os porcos infestados de triquinas, ou os piores dentre eles, fez-se por algum tempo uma tentativa de examinar microscopicamente os tecidos de cada porco. Esse esforço teve de ser abandonado como impraticável e por demais oneroso, e assim o departamento da Agricultura, em um boletim sobre triquinose, diz que ‘nenhum sistema viável já se descobriu, para proteger do perigo da triquinose os que ingerem carne de porco crua ou cozida insuficientemente’. No mesmo boletim mostra-se que na Alemanha, onde é efetuado sistematicamente o exame microscópico da carne de porco, em dezessete anos ocorreram 6.329 casos de triquinose, 32% dos quais foram de carne inspecionada, que fora liberada como isenta de infestação de triquinas.” Idem, pp. 10, 11.

15. Nos tempos antigos, os que ousavam passar por alto a proibição divina, de comer carne de porco, eram por Deus designados como:

*“Povo que de contínuo Me irrita abertamente, ... come carne de porco, e tem no seu prato ensopado de carne abominável.” Isa. 65:3, 4.

16. Os que têm a carne de porco como fina iguaria, alegam que sob as leis sanitárias modernas, a carne de poço é diferente do que era nos dias de Moisés. Essa alegação é raciocínio fantasioso, pura ficção. As leis sanitárias não podem mudar a natureza do porco, que é pelo D’us de Israel declarado imundo.
Proibido o Sangue como Alimento 17.“Qualquer homem... que comer algum sangue, contra ele Me voltarei e o eliminarei do seu povo. Porque a vida da carne está no sangue. Eu vô-lo tenho dado sobre o altar, para fazer expiação pelas vossas almas: porquanto é o sangue que fará expiação em virtude da vida”. Lev. 17:10, 11.

O sangue constantemente transporta impurezas que se acumulam no tecido muscular dos animais, e visto como as enfermidades no reino animal estão aumentando em proporção relativamente alarmante, o sangue acha-se carregado de germes de muitas espécies.

Proibida a Ingestão de Gordura Animal

18. Veja Lev. 7:23, 24.

Muito se tem dito e escrito ultimamente sobre o colesterol, elemento do corpo que pode aumentar grandemente pela ingestão de gordura animal. O resultado desse estado é muitas vezes o endurecimento das artérias. Este mal se relaciona com enfermidades como angina péctoris e é causa de doença cardíaca da coronária, muitas vezes seguida de morte súbita, e causa freqüente de perturbações dos rins e apoplexia.

19. Em seu Commentary on The Authorized Daily Prayer Book (edição revista), o antigo Rabino-Chefe do Império Britânico, Dr. José H. Hertz, diz: “Um antigo motejo, revivido modernamente e usado como argumento final contra as leis dietéticas é ‘Não é o que entra pela boca o que contamina o homem, mas o que sai da boca, isto, sim contamina o homem’. ... sustem ele que um veneno que entre pela boca, por certo que contamina, e classifica a intoxicação de grupos como uma especialmente detestável espécie de homicídio. Semelhantemente a ciência condena as frutas imaturas, o leite adulterado, alimentos deteriorados – coisas que entram pela boca. Mesmo muitas igrejas cristãs têm, por mais de 100 anos, travado acérrima luta contra o inimigo que os homens levam aos lábios para entorpecer o cérebro, isto é, o álcool. E quanto às palavras ‘o que sai da boca contamina o homem’, basta recordar o fato de que da boca vêm palavras que erguem o homem acima dos irracionais, a oração que une o homem ao seu Criador, palavras de animação e fé dirigidas aos tomados de tristeza.

“... Demais, como é no sangue que circulam os germes ou esporos de doenças contagiosas, a carne deve ser limpa de sangue. Isto é, efetivamente, praticado pela Shechitah, amaneira judaica de abater animais para consumo. Esse método de drenagem do sangue, apenas produz no animal instantânea insensibilidade. E essa drenagem do sangue é completada pelo ‘kasherut’, o tratamento tradicional do animal abatido segundo o sistema "kosher", quando preparado para alimento. As estatísticas têm demonstrado que os judeus, como classe, são imunes a certas doenças, ou menos suscetíveis; e autoridades competentes não têm hesitado em atribuir essas características sadias à influência das leis dietéticas”.– P. 961 (Bloch publishing Co., Nova Iorque, 1948)

20. A pessoa descobre logo se sua própria inclinação, apetite e desejos, são o princípio dominante de sua vida. Somos levados face a face com o preceito: “Não terás outros deuses diante de Mim”. Êxo. 20:3.

21. Em Lev. 11:1-23, mostra-nos o que é lícito comer, e o que não devemos comer. Note as palavras que “Falou o Senhor a Moisés e a Arão...”.

22. O Senhor prometeu a Israel que, se fossem obedientes a todas as Suas leis e estatutos, Ele não deixaria que nenhuma das doenças dos egípcios os afligisse.

23. Leia em Êxo. 15:26 a afirmação acima.

24. A saúde pública era questão muito preeminente no acampamento de Israel. Por certo que contribuía para que, com a bênção de D’us, não houvesse: “entre as suas tribos... um só inválido”.Salmo 105:37 (H).

25. Nosso Pai celestial deseja que Seus filhos gozem abundante saúde. Isto nós melhor conseguimos se obedecermos às instruções que nos são dadas nas Santas Escrituras, as quais contêm a sabedoria e o conselho d'Aquele que declara: “Eu sou o Senhor que te sara”.Êxo. 15:26.

Que o Deus de Abraão, Isaque e Jacó ajude cada um de nós a ver a plena formosura das leis sanitárias, tão graciosamente providas à humanidade! Sejamos inabaláveis, mental, moral e fisicamente ao aderirmos às provisões do Céu! Deste modo seremos abençoados fisicamente, e também receberemos de D’us as bênçãos espirituais.

Fonte: INSTITUTO DA HERANÇA JUDAICA
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20 de mar. de 2007

CRESCIMENTO E MORTE DE MICROORGANISMOS

Do ponto de vista biológico o processo de crescimento representa um aumento ordenado de todos os componentes de um organismo. Isto significa que uma célula viva é um sistema dinâmico com um padrão específico de organização, imposto por sua estrutura genética, o qual é perpetuado através da assimilação de nutrientes e a habilidade de se reproduzir.

No estudo do fenômeno do crescimento, a taxa na qual o organismo é dividido, ou melhor, o número de gerações ocorridas em um determinado período, apresenta um interesse maior do que simplesmente determinar o número atual de organismos vivos a cada hora. As espécies bacterianas são caracterizadas por uma taxa de crescimento excepcionalmente alta, sendo este fator reconhecido como de grande importância no esquema de sobrevivência biológica. Como a taxa de crescimento está diretamente relacionada à taxa de metabolismo, pode-se dizer que quanto maior for o organismo, mais lento é o crescimento.

Em qualquer célula, o processo de crescimento demanda a presença de um grande número de diferentes enzimas e proteínas. Além disso, outras moléculas precisam estar presentes, tais como ácidos nucléicos, lipídios e carboidratos. Todos os organismos compartilham uma composição química, o mais importante desta composição é a invariável presença de 3 (três) tipos de macromoléculas orgânicas complexas: Ácido Desoxirribonucléico (DNA), Ácido Ribonucléico (RNA) e proteínas. O DNA é a substância celular que serve de repositório de informações que identificam o organismo em termos de propriedades específicas, estando altamente confinado ao núcleo da célula. O RNA parece estar profundamente envolvido nos complexos padrões de síntese de proteínas, estando a maior parte desta substância localizada no citoplasma da célula. As proteínas, por sua vez, funcionam como catalisadores ou enzimas responsáveis por toda a variedade de operações da célula.

O tamanho da menor das células microbianas é regido pelas limitações básicas de manutenção da função celular. Uma definição de tamanho celular é difícil de ser compreendido até que seja possível visualizar que um organismo ocupando apenas 10-12 ml e consistindo de apenas 2.5 x 10-18 g de matéria seca contém centenas, talvez milhares, de diferentes tipos de moléculas de ácido nucléico e proteína organizadas no espaço e tempo, de tal forma que o seu funcionamento resulte na perpetuação das espécies. Devido à grande variação de tamanho das células, definiu-se que o tamanho deveria ser medido em termos do volume celular para as várias unidades estruturais, representativas das maiores e menores formas de vida microbiana

Na prática, é comum expressar a taxa de crescimento em termos do número de gerações por hora. A geração é definida como a duplicação do número de células ou, em outras palavras, o tempo necessário para a cultura duplicar em concentração ou massa, também conhecido como Tempo Médio de Geração, comumente chamado de Tempo de duplicação. Uma vez que organismos unicelulares multiplicam-se em progressão geométrica em um determinado período de tempo, a população total aumenta como uma potência (expoente) de 2. Assim, uma bactéria produz 2, 2 produzem 4, 4 produzem 8, 8 produzem 16 e assim sucessivamente. Se partirmos do pressuposto de que nenhuma célula morrerá durante o processo, essa relação pode ser expressada da seguinte forma:

20 -> 21 -> 22 -> 23 -> 24 ->. . . -> 2n

Os expoentes representam o número de gerações.

Se os logaritmos dos números de organismos em uma cultura em crescimento exponencial for plotado em relação à unidade de tempo, uma relação em linha reta pode ser observada, conforme a figura abaixo:



Quando a representação gráfica do crescimento exponencial for plotada em uma escala semi-logarítmica, a inclinação da linha registra a taxa de crescimento da cultura. Quanto maior a inclinação da reta, maior a taxa de crescimento da cultura. Da mesma forma, quanto menor for a inclinação da reta ou quanto mais próxima do eixo horizontal, menor é a taxa de crescimento. Quando se é conhecido o número de células presentes em uma cultura em crescimento exponencial em dois determinados períodos, o tempo de geração pode ser calculado diretamente por meio da equação:

G (número de gerações) = (log N1 – log N0­) / log 2, onde:

N0 = número de células no tempo t0
N1 = número de células no tempo t1

Se, por exemplo, a cultura inicial contivesse 100 células e seguisse crescendo exponencialmente até que chegasse a 110.000.000, o número de gerações seria:

(log (108) – log (102)) / log 2 = (8-2) / 0,3 = 20 gerações.

Se este aumento da população ocorrer no período de 10 horas, a taxa de crescimento seria de 20/10, ou 2 gerações por hora.

A CURVA DE CRESCIMENTO

Estudos realizados com diferentes espécies de microorganismos mostraram que o poder reprodutivo completo das células não pode ser mantido por um período longo de tempo. A população microbiana torna-se limitada pela escassez de nutrientes essenciais, ou quando se desenvolve um equilíbrio iônico desfavorável (pH) ou pela acumulação de substâncias tóxicas no ambiente.

A história de qualquer cultura é marcada por uma série de fases de crescimento relativamente distintas e consecutivas que, quando plotadas, mostram uma curva de crescimento típica. Esta curva pode ser dividida em várias seções ou fases como mostradas na figura abaixo e representadas pelas letras de A a H no gráfico.

Fase Estacionária Inicial (Initial Lag Phase)

Em seguida à inoculação de células microbianas viáveis em um meio líquido, ocorre um período estacionário, com duração entre 2 e 3 horas, durante as quais o número de células não mostra nenhum aumento em relação ao número de células inicialmente inoculadas. Esta fase é conhecida como Fase Estacionária e representa um período de ajuste e adaptação das células ao seu novo ambiente. A forma e a duração deste período estacionário inicial dependem da natureza das células, do meio de cultura e da temperatura. A fase estacionária estende-se por uma porção da curva de crescimento designada A – B.

Fase Exponencial (Exponential Phase)

O período logarítmico ou exponencial de crescimento é caracterizado por uma taxa máxima e contínua de multiplicação celular em um ambiente específico. Nesta fase, certos fatores governam a taxa de crescimento, tais como a espécie microbiana, a natureza e a concentração de nutrientes no meio, o pH e a temperatura de incubação. Em culturas líquidas normais, a fase de crescimento exponencial não dura mais do que 2 a 4 horas, podendo ser prolongada através do processo de aeração, fornecendo um suprimento adequado de oxigênio ao meio. Quando a aeração é empregada, a taxa de multiplicação não sofre necessariamente um aumento, podendo ser mantida essa taxa de crescimento constante por um período prolongado, gerando assim uma quantidade maior de células. Geralmente, quando a concentração de células se torna superior a 1 x 107 0u 10.000.000 por ml, a taxa de crescimento decairá, salvo adicionemos oxigênio por meio do processo de agitação ou borbulhamento de uma corrente de ar através do meio.

Durante esta fase, os números de organismos aumentam exponencialmente com o tempo, e quando os logarítmos dos números de células são plotados com relação ao tempo, uma relação em linha reta resulta. Esta característica é mostrada na seção C – D da curva de crescimento representada na figura acima. Ao longo do crescimento exponencial todas as células produzidas são viáveis. Os tempos de geração variam de acordo com as diferenças hereditárias das espécies. Sob condições ótimas, a Escherichia Coli se divide aproximadamente a cada 20 min. O Estafilococos apresenta um tempo de geração similar, mas o bacilo da tuberculose necessita de 5 a 9 horas para a divisão. Outras espécies mostram taxas de multiplicação intermediárias.

Fase Estacionária Máxima (Maximum Stationary Phase)

A fase de incremento logarítmico é seguida por uma fase chamada estacionária, durante a qual o número máximo de organismos viáveis permanece constante. Esta fase corresponde à seção E – F da curva de crescimento. Durante este período a taxa de mortalidade e a taxa de formação de novas células se equilibram. A exaustão do suprimento de alimentação resulta em fome, possível super população e o acúmulo de substâncias tóxicas oriundas do metabolismo são fatores que contribuem para a redução do crescimento e o aparecimento da fase estacionária máxima. O suprimento deficiente de oxigênio também é um fator limitante desta fase. Em relação ao tempo, uma cultura pode permanecer nestas condições por horas, talvez dias, antes da morte das células ser verificada. No caso do organismo ser capaz de produzir esporos resistentes, a fase estacionária pode ser prolongada indefinidamente.

Fase de Morte (Death Phase)

Com o aumento progressivo na taxa de mortalidade, a cultura entra na fase de morte ou na fase de declínio, mostrada na seção F – H na curva de crescimento. Tão logo uma taxa de mortalidade constante seja estabelecida, a cultura começa a morrer exponencialmente e o número de sobreviventes se torna cada vez menor, até finalmente ocorrer a esterilidade, estando o ciclo de crescimento completo. Precisamos perceber, no entanto, que desvios da ordem exponencial de morte não são incomuns. Por exemplo, depois da maioria das células ter morrido, a taxa de mortalidade pode mostrar um decréscimo marcado pelo fato de um pequeno numero de células continue a sobreviver por alguns meses. O crescimento continuado desta pequena população de sobreviventes pode ser atribuído à disponibilidade de nutrientes oriundos de células que morrem e se decompões lentamente. Alguns pesquisadores acreditam que o canibalismo pode ser um mecanismo que mantém uma cultura viável por períodos longos e indefinidos. Esta condição também é chamada de crescimento crítico ou recrescimento.

O Significado da Morte

Morte microbiana é um fenômeno estatístico. Como aplicada a uma célula individual, a morte representa uma redução irreversível do processo vital, essencial para o crescimento e a reprodução. A morte de microorganismos pode ser medida apenas pela determinação do número de células viáveis na população. Por esta razão, o número viável ou o número de sobreviventes remanescentes depois do contato com uma influência destrutiva é o único meio viável para a determinação da morte.

Critério de Morte

O diagnóstico da morte em uma população de organismos unicelulares não é um processo simples. O único critério prático é a falha do organismo em se reproduzir quando plantado em um meio adequado ou quando sujeito a um ambiente ótimo. A escolha do meio de cultura e as condições de incubação são fatores críticos no teste de viabilidade ou de morte. Um organismo ferido pode crescer em um tipo de meio de cultura, mas não em outro, os mesmo exibir uma prolongada fase estacionária. Após a exposição a raios-x, luzes ultravioletas ou a certos produtos químicos tóxicos, os organismos podem perder sua habilidade de reprodução, e ainda continuar a sua função de forma normal por um longo período. Estas condições demandam que o meio selecionado para sobrevivência seja especificado cuidadosamente, incluindo propriedades que auxiliem no reparo de danos celulares adquiridos na exposição a agentes letais, e o tempo de incubação necessário para o crescimento ocorrer.

Mesmo adotando o critério de morte acima estabelecido, é necessário reconhecer que uma célula microbiana pode ser considerada morta apenas quando as condições de teste são mantidas invioladas e permitem a determinação factual da viabilidade ou não. Um ponto que merece toda a atenção e respeito é a adaptabilidade da célula microbiana, seu poder de reparo e recuperação e o impacto destas características biológicas sobre a habilidade humana de desenvolver métodos seguros de esterilização, desinfecção e sanitização.

Fonte: John J. Perkins, Principles and Methods of Sterilization in Health Sciences, Second Edition.

HISTÓRICO PARTE II

Joseph Lister e a Cirurgia Antiséptica.

Lord Joseph Lister é conhecido mundialmente como o pai da cirurgia anti-séptica. Sem dúvida foi o primeiro cirurgião a empregar um desinfetante químico para manutenção de uma atmosfera anti-séptica projetada para prevenir a entrada de bactérias em feridas cirúrgicas. O sistema anti-séptico de Lister foi desenvolvido antes mesmo da teoria dos germes ter sido aceita. De fato, foi por volta de 1864 que Lister ficou interessado pelo trabalho de Pasteur a respeito das causas da putrefação e da fermentação.
Após cuidadosamente repetir e confirmar alguns dos experimentos de Pasteur, Lister concluiu que as bactérias aéreas seriam as responsáveis pela supuração e pela putrefação das feridas cirúrgicas. Esta conclusão o levou a formular alguns princípios que constituem a base do sistema anti-séptico:

1. É necessário evitar a entrada de germes nas feridas durante ou após a operação;
2. Caso os germes estejam presentes nas feridas, estes precisam ser impedidos de se espalharem após a operação;
3. Os germes exteriores ou nas cercanias das feridas precisam ser destruídos;
4. Todos os instrumentos, tecidos, e tudo o mais que estiver em contato com a operação, incluindo-se as mãos do cirurgião e assistentes devem ser tornados anti-sépticos;
A fim de colocar em prática os princípios do sistema anti-séptico, Lister foi obrigado a desenvolver materiais e métodos adequados. Em sua pesquisa por compostos químicos que poderiam ser utilizados na destruição de bactérias, sua atenção foi despertada por uma matéria de jornal descrevendo o uso do ácido carbólico no tratamento de dejetos na cidade de Carlisle, próximo a Glasgow. Imediatamente Lister reconheceu este anti-séptico como adequado às peculiaridades de seu experimento. Sua primeira aplicação dos princípios anti-sépticos ocorreu em março de 1865, na enfermaria real de Glasgow, em um caso de múltiplas fraturas. O ar ao redor da ferida foi submetido a uma camada fina de spray de uma solução de ácido carbólico. Além disso, as mãos, instrumentos e outros foram lavados e mergulhados na mesma solução. Apesar deste primeiro teste do sistema anti-séptico não ter sido um sucesso, Lister atribuiu seu fracasso à utilização imprópria.

Assim, seguindo uma longa série de experimentos, com repetidas tentativas de melhorar as técnicas que permitiriam a aplicação mais efetiva dos princípios anti-sépticos, em 1867, suas primeiras publicações registraram que a aplicação do tratamento anti-séptico, reduziam a taxa de mortalidade nos casos de fraturas múltiplas de 45 para 9%, sendo este um marco na eliminação da infecção pós-operatória.

À Lister deve ser dado o crédito total pelo sistema organizado da cirurgia anti-séptica, que é a base sobre a qual foi fundada a moderna cirurgia asséptica. Lister é o responsável pela introdução da esterilização dos instrumentos, tecidos e demais suprimentos utilizados nas salas cirúrgicas. Apesar dos equipamentos modernos serem bastante distintos dos utilizados por Lister, os princípios Listerianos originais permanecem invioláveis até os dias de hoje, do mesmo modo como foram criados.

Digno de nota também é o fato dos resultados práticos de Lister serem seguros na destruição de bactérias na atividade cirúrgica, sem o conhecimento definitivo da bactéria patogênica. Pasteur e outros haviam sugerido a relação entre bactéria e infecção, porém ninguém havia provado esta relação. As apresentações de Lister se desenvolveram entre 1860 e 1870, sendo que apenas em 1876, Robert Koch foi capaz de cultivar artificialmente, pela primeira vez, um organismo patogênico fora do corpo (Anthrax) e produzir uma doença com esta cultura em animais. Logo em seguida, Pasteur conseguiu confirmar as observações de Koch e, em 1878, em associação com Joubert e Chamberland, conseguiu propor a tese de que todas as infecções eram causadas pelo crescimento de microorganismos dentro do corpo.

CONTRIBUIÇÃO DA ESCOLA ALEMÃ

As pesquisas de Koch e seus associados, em 1881, sobre as propriedades desinfetantes do vapor e do ar quente marcam o início da ciência da desinfecção e esterilização. Em colaboração com Wolffhügel, Koch demonstrou que havia uma diferença marcante no efeito do calor quente sobre uma bactéria, em contraste com o calor úmido. Estes investigadores determinaram que o calor seco a uma temperatura de 100 oC destruía bactérias vegetativas em 1 1/2 hora, porém os esporos mais resistentes (Anthrax) exigiam uma temperatura de 140 oC por 3 horas, a fim de assegurar sua destruição. Em conjunto com Loeffler, Koch investigou a ação germicida do calor úmido. Este estudo mostrou que os esporos de Anthrax eram destruídos em água fervente a 100oC em um intervalo de 1 a 12 minutos. Certamente Koch não ficou impressionado com o calor seco como um método de esterilização, tendo em vista o fato de, em seus experimentos, ele ter demonstrado claramente os poderes de penetração do calor úmido.

A escola alemã parece ter dado preferência ao esterilizador do tipo sem pressão para o processo de esterilização fracionada ou intermitente. Isto pode ser atribuído, em parte, às dificuldades experimentadas com os primeiros modelos de autoclaves do tipo Chamberland, desenvolvidas por Pasteur e seu grupo. Koch e seus colaboradores, por outro lado, demonstraram que o vapor sob pressão é um agente esterilizante mais eficiente do que o vapor à pressão atmosférica. Além disso, baseado na literatura dos primeiros fabricantes de autoclaves, fica claro que a autoclave original do tipo Pasteur-Chamberland foi submetida a modificações nas mãos dos alemães, que mais tarde ficou conhecida como autoclave de Koch.

Koch também desenvolveu métodos e equipamentos para a desinfecção de roupas. Nesta aplicação ele conclui a superioridade da esterilização por calor úmido, principalmente pelo seu elevado poder de penetração. Seus estudos revelaram que em um tecido contaminado com esporos e submetido a um calor seco de 140oC a 150oC por 4 horas, a temperatura no interior do tecido era de apenas 83oC e os esporos existentes germinavam livremente. Quando o mesmo tecido era exposto a um calor úmido a 120oC por 1 ½, a temperatura no interior alcançava 117oC e todos os esporos eram destruídos.

Apesar de Ernst Von Bergamm (1836–1907) ser, em alguns casos, reconhecido como o introdutor da esterilização por vapor na cirurgia, é apontado por Walter, em sua discussão sobre o desenvolvimento do conceito de assepsia, que Schimmelbusch, um dos assistentes de Bergmamm, ter sido o primeiro a utilizar a esterilização por vapor de compressas cirúrgicas em 1885.

Seguindo as descobertas e os avanços feitos por Robert Koch a respeito da etiologia da infecção de feridas e na técnica bacteriológica, outros trabalhadores fizeram significativas contribuições à ciência da desinfecção e esterilização. Von Esmarch, por exemplo, enfatizou a grande importância prática da utilização de vapor saturado contendo a máxima quantidade de água em todos os métodos de esterilização por vapor. Max Rubner também provou que o efeito bactericida do vapor é reduzido na proporção que a quantidade de ar presente no esterilizador aumenta. Da literatura, fica evidente que durante o período de 1885 a 1900 os alemães fizeram contribuições notáveis aos princípios que governam a esterilização por vapor e desinfecção química. A aplicação em larga escala destes princípios, incluindo sua adaptação para os equipamentos de esterilização, só seriam possíveis 30 anos depois, com a introdução dos modernos esterilizadores controlados por temperatura, sendo este um produto de fabricação americana.

DESINFECÇÃO AÉREA OU GASOSA

A partir da descoberta do gás formaldeído por Von Hoffman, de 1867 até 1888, os únicos agentes gasosos utilizados na desinfecção eram o ácido sulfúrico, cloro, ácido hidrociânico, oxigênio, ozônio e ácido nítrico. Em 1888, Blum e Loew demonstraram as propriedades desinfetantes do formaldeído. Mais tarde, Buchner descobriu que uma solução a 10% de do gás destruiria esporos de Anthrax. Este período pode ser definido como o início da desinfecção por formaldeído.

Na Alemanha, o método de desinfecção por formaldeído de Breslau foi amplamente empregado. O gás formaldeído era gerado pela evaporação de uma solução diluída e desta forma a polimerização não ocorreria.

O termo desinfecção aérea foi empregado para significar o uso do ar como um veículo para a difusão de um germicida gasoso em todas as superfícies expostas de um ambiente e seu conteúdo.

PRIMEIROS DESENVOLVIMENTOS AMERICANOS NA ESTERILIZAÇÃO

Durante o período de brilhantes pesquisas e descobertas na área da bacteriologia na Europa, pesquisadores nos Estados Unidos também estavam engajados no progresso da área. Por volta de 1890, a nova ciência da bacteriologia já havia se tornado bem conhecida nos Estados Unidos. A introdução do estudo da bacteriologia nos Estados Unidos é creditado à Thomas J. Burril (1839 – 1916), na universidade de Illinois, por volta do ano de 1870. Talvez, o primeiro contribuinte ao assunto desinfecção e esterilização tenha sido George M. Sternberg, que em 1878 conduziu experimentos sobre a avaliação de certos desinfetantes comerciais, incluindo o cloro. Ele também estudou o “Thermal Death Point” de bactéria patogênica e determinou que organismos não formadores de esporos eram mortos em 10 minutos expostos a uma temperatura de 62oC a 70oC, e que os formadores de esporos eram destruídos em 5 minutos expostos ao calor úmido a 100oC.

Muitos dos dispositivos e equipamentos esterilizantes utilizados pelos primeiros bacteriologistas americanos foram trazidos da Europa. Não há registros dos primeiros esterilizadores produzidos nos Estados Unidos, mas é certo afirmar-se que a indústria de esterilizadores surgiu nos Estados Unidos por volta de 1895.

A primeira instalação completa para esterilização sob pressão de itens cirúrgicos da história foi instalada no Witbeck Memorial Surgical Pavilion, ligado ao Rochester City Hospital, em Rochester, Nova Iorque, em 1890, por A. V. M. Sprague, e até os dias de hoje ainda permanece funcionando.

Historicamente, sabemos que os componentes principais dos esterilizadores da empresa Sprague-Schuyler, foram construídos pela empresa Shipman Engine, de Rochester. Esta empresa, junto com as patentes dos esterilizadores de Sprague, foram adquiridas em 1900 por J. E Hall. e G. F. Hall, fundadores da American Sterilizer Company, localizada na Pensilvânia. Estas duas pessoas, inicialmente, começaram suas atividades sob o nome de Hall Bros., em 1894. Outra informação digna de nota é que a empresa Sprague-Schuyler e outra produtora pioneira neste campo, a empresa Kny-Scheerer, de Nova Iorque (1888), foram responsáveis pela introdução de uma porta que poderia ser aberta ou fechada, simplesmente pela manipulação de um único volante de mão.

Outro contribuinte à indústria de esterilizadores foi a empresa Wilmot Castle, que iniciou suas atividades em 1883, produzindo a “Arnold Steam Cooker”, transformada mais tarde no esterilizador Arnold.

Um significativo avanço no desenvolvimento de esterilizadores nos Estados Unidos surgiu com a introdução da câmera de desinfecção por vapor e formaldeído de Kinyoun-Francis. Os princípios fundamentais e o projeto deste equipamento foram concebidos e desenvolvidos por J.J. Kinyoun, cirurgião assistente do U.S. Public Health and Marine Hospital Service, em conjunto com W.H. Francis, um dos fundadores da empresa Kensington Engine Works. Em 1888, sob as recomendações de Kinyoun, o Louisiana “Quarentine Board” construiu a primeira câmara a vapor, para aplicação de vapor sob pressão de 1 a 2 Atmosferas, com a finalidade de desinfetar colchões, roupas de cama e etc. Antes disso, o único equipamento disponível era o de Dummond, ou modelo francês, construído para a operação a uma pressão máxima de 1 atmosfera, equivalente a 111oC.

A evolução e a abordagem para a obtenção de um esterilizador por vapor perfeito foi, como outros equipamentos, gradual e lenta. Praticamente todos os esterilizadores cirúrgicos por pressão de vapor empregados em ambientes hospitalares no período de 1900 a 1915 eram projetados para operação por meio do chamado sistema de controle por vácuo. Este sistema ou método de operação, com poucas exceções, consistia de uma evacuação parcial do ar contido no interior da câmara, obtida através de um ejetor de vapor ou conexão de vácuo e então, submetendo a carga na câmara a um vapor sob pressão por um período de 20 a 30 minutos. O propósito do vácuo inicial era assegurar uma completa remoção do ar contido na câmara, visando uma completa penetração do vapor na carga, após a admissão deste na câmara.

Em meados de 1915, foi introduzido nos hospitais do país uma nova concepção de performance, na qual um processo inteiramente novo de eliminação do ar da câmara por gravidade, substituía o modelo anterior que utilizava vácuo.A maior parte dos créditos pelo estabelecimento do novo processo de eliminação do ar da câmara por gravidade, juntamente com certas características mecânicas de projeto, precisa ser dada aos esforços de W. B. Underwood e seus colaboradores, que foram responsáveis pelos avanços notáveis nesta área.

Logo após a introdução do sistema por gravidade, um obstáculo foi verificado: a performance necessária ao esterilizador necessitava de uma imensa atenção por parte dos operadores, o que nem sempre era conseguido, ocasionando freqüentes falhas no processo de esterilização. Felizmente, os fabricantes se conscientizaram da necessidade de realização de modificações a fim de desenvolver um sistema mais eficiente de remoção de ar que viesse a eliminar o risco de falhas de operação. Como conseqüência direta, surgiram uma série de modificações no sistema por gravidade, contribuindo assim para o surgimento e o desenvolvimento dos modernos esterilizadores por pressão de vapor controlados automaticamente. Uma vez que os operadores não eram simpáticos à utilização de baldes no chão para a coleta da descarga da câmara, o uso de coletores de vapor (válvulas termostáticas) para controlar a descarga da câmara foi introduzido após 1915.

INTRODUÇÃO DE CONEXÕES SANITÁRIAS AOS ESTERILIZADORES

Antes de 1928, era prática geral conectar-se a descarga dos esterilizadores diretamente às redes de dejetos da instituição. Além disso, a maior parte dos esterilizadores por água fervente, pasteurizadores, lavadores de roupas de cama e esterilizadores de água tinham sua admissão de água diretamente conectada a seus respectivos reservatórios em um ponto normalmente abaixo da linha d’água. Isto significava que sob certas condições adversas, como uma falha na pressão d’água enquanto o esterilizador estivesse sendo alimentado, a água poluída contida nos esterilizadores poderia, retornar para a linha de alimentação, sendo esta uma situação comum.

Esterilizadores a água eram, talvez, os piores inimigos de todas as precauções contra a recontaminação. Quando os tanques eram resfriados após a esterilização, um relativo grau de vácuo era produzido, sendo este aliviado através da entrada do ar existente na sala. Esta característica negativa era contornada através da utilização de filtros de algodão na entrada do ar.

Os filtros de algodão são atualmente mais danosos do que úteis, visto que estes, invariavelmente, ficam úmidos durante o processo de esterilização e, após a admissão de ar do ambiente, ficam repletos de poeira e bactérias contidas no ambiente.

Os velhos esterilizadores de água, que eram conectados diretamente à linha de descarga, eram particularmente perigosos. As válvulas de descarga, devido ao acúmulo em escala, estavam sempre vazando e, como conseqüência, quando os tanques estavam sob vácuo, era perfeitamente possível a aspiração de água poluída existente na linha de descarga para dentro da câmara estéril.

Por volta de 1920, as autoridades públicas tornam-se conscientes da necessidade e da importância dos processos de esterilização, dando ênfase à contaminação por cruzamento. Como resultado disso, todos os fabricantes de esterilizadores foram compelidos a adotarem ações drásticas para dotarem os equipamentos de características protetoras contra as contaminações cruzadas, tornando os esterilizadores livres da influência das conexões de alimentação e descarga.

A ESTERILIZAÇÃO NOS DIAS ATUAIS

O ano de 1933 é tido como o início da moderna esterilização científica. Nesta época a empresa American Sterilizer introduziu o primeiro esterilizador por pressão de vapor no qual o controle do processo inteiro de esterilização era centrado na medição da temperatura através de um termômetro de mercúrio localizado no dreno da câmara,situado no fundo da mesma. Os esterilizadores fabricados e instalados antes de 1933 eram operados tendo como parâmetro de controle apenas a pressão, sem opção de medição da temperatura desenvolvida pelo vapor.

A introdução do controle por temperatura tirou a esterilização de um período marcado por trabalhos científicos de quase adivinhação, remetendo-os a um período de esterilização mais precisa, que permanece praticamente inalterado até os dias de hoje, excetuando-se os modernos controles de automatismo. Praticamente todos os esterilizadores atuais apresentam o mérito de possuírem termômetros confiáveis, capazes de sob quaisquer condições, indicarem de forma precisa a temperatura do vapor aplicado às cargas.

Faz-se mister destacarmos que as três primeiras décadas do século XX testemunharam avanços importantes na ciência e na metodologia da esterilização. Muitos destes desenvolvimentos contribuíram de forma importantíssima para a segurança dos pacientes e do pessoal envolvido na área de saúde. Além disso, a partir destes avanços implementados, finalmente surgiu um claro entendimento e distinção dos princípios científicos envolvidos na esterilização.
Fonte: John J. Perkins, Principles and Methods of Sterilization in Health Sciences, Second Edition & Richard Gordon, A Assustadora história da medicina, Quarta Edição.

19 de mar. de 2007

HISTÓRICO - PARTE I

A ANTIGUIDADE

O conhecimento a respeito do assunto esterilização foi obtido ao longo dos tempos, estando intimamente relacionado ao desenvolvimento da microbiologia, tornando-se praticamente impossível o estudo do primeiro sem nos referirmos ao ultimo. Como se atribui o surgimento da microbiologia à tentativa de solucionar o “problema” da existência da vida e da morte, o conhecimento e o desenvolvimento da esterilização acompanhou passo a passo a solução para este problema da antiguidade.

Desde o início dos nossos tempos o homem parece ter praticado, de alguma forma, processos de purificação e desinfecção, sendo este último o precursor da esterilização. A utilização de anticépticos tais como o piche ou alcatrão, resinas e aromáticos foram largamente empregados pelos egípcios no embalsamento de corpos mesmo antes da existência de uma linguagem escrita. Do trabalho de Heródoto (484 – 424 a.c), há indicações de que os egípcios eram familiarizados com os valores anticépticos do ressecamento resultante da utilização de certos produtos químicos como o sal comum. A fumaça originada da queima de produtos químicos também era utilizada pelos mais antigos com o propósito de desodorizar e desinfetar.

A purificação de ambientes e a destruição de materiais nocivos e infecciosos através do fogo parece ter se originado também entre os egípcios. A cremação de corpos de animais e de pessoas, especialmente nos casos de guerras, sempre foi pregado pelos mais antigos como forma de descarte, assim como uma maneira de se eliminar odores desagradáveis.

Moisés foi o primeiro a prescrever um sistema de purificação através do fogo e, dos livros Levítico e Deuteronômio, podemos perceber que o mesmo foi responsável pelo desenvolvimento de um processo de purificação de ambientes infectados. Os severos mandamentos dados por Moisés (cerca de 1450 a.c.) a respeito do descarte de dejetos, sanitização, tratamento e prevenção da lepra, o toque em objetos sujos e a absorção de alimentos não limpos formam a base do primeiro código sanitário estabelecido pelos antigos Hebreus. Digno de nota também, é a proibição da tatuagem (Lev. 19:28) com o intuito de prevenir a transmissão de hepatite através da agulha contaminada e o relacionamento das moscas à transmissão de doenças. Tomando-se como partida as leis estabelecidas por Moisés, vários sistemas de purificação foram adotados.

A história registra que os pensadores da antiguidade nunca duvidaram de que, sob condições favoráveis, a vida, tanto animal como vegetal, parecia surgir de forma espontânea. Certos filósofos gregos da antiguidade defendiam a teoria de que animais eram formados da umidade. Empédocles (450 A.C.), um defensor da fumigação como meio de combater epidemias, atribuía à geração espontânea a existência de todos os seres vivos que habitavam a terra. Aristóteles (384 D.C.) pregava que “animais são formados algumas vezes em solos putrefatos, algumas vezes em plantas e algumas vezes em fluidos de outros animais. O mesmo Aristóteles formulou o seguinte princípio: “ toda substância seca que se torna úmida ou todo corpo úmido que se torna seco produz criaturas vivas, provando que isto é para nutri-los”. Durante esta época, é digno de nota que Hipócrates (460-370 D.C.), o maior de todos os médicos, responsável pela dissociação da filosofia da medicina, reconheceu a importância da água fervendo para a limpeza de feridas, das mãos e unhas e o uso de compressas nas feridas.

O período de 900 a 1500 D.C. é tido como uma era de decadência e estagnação. A imundície, a pestilência e a praga arrasaram toda a Europa. Tentativas foram feitas para combater a pestilência em hospitais, lazaretos e casas infectadas através de soluções de limpeza, aeração, vapores de palhas queimadas, de enxofre, antimônio e arsênico. Este período testemunhou o surgimento de enfermarias monásticas sob a influência da igreja.

Fracatório, o primeiro epidemiologista do mundo, publicou seu famoso trabalho “De Contagione“, o qual versava sobre a pestilência aérea. Ele presumia a existência de imperceptíveis “sementes de doença que se multiplicavam rapidamente”. Em adição a isso, ele declarou que doenças eram disseminadas de três formas: contato direto, manuseio de objetos manipulados por doentes e pela transmissão à distância.

A DESCOBERTA DA BACTÉRIA

A existência da bactéria foi considerada possível por muitas pessoas antes mesmo que esta fosse descoberta. No entanto, a prova de sua existência teve que esperar o desenvolvimento e a construção de um equipamento adequado à observação e ao estudo das formas de vida microbianas, o microscópio. Neste ponto, precisamos dar crédito a Antonj van Leeuwenhoek pela perfeição das lentes de curta distância focal por ele desenvolvidas. Utilizando estas lentes, foi possível, pela primeira vez, a visualização das formas maiores de bactérias. Em 1863 ele observou e descreveu uma grande variedade de formas microbianas em vários fluidos corporais, descargas intestinais de animais, água e cerveja com alto grau de precisão. Leeuwenhoek também fez importantes contribuições à anatomia microscópica sendo tido, por certas autoridades, como real descobridor dos corpúsculos sanguíneos. As observações de Leeuwenhoek e o desenvolvimento do microscópio foram responsáveis pela fundação da bacteriologia e reabriu a questão concernente à fermentação e doença.

A DOUTRINA DA GERAÇÃO ESPONTÂNEA

Seguindo a descoberta da bactéria, a questão antiga relacionada à geração espontânea de coisas vivas tornou-se assunto de discussão. Alguns poucos indivíduos combatiam a teoria, mas a crença geral era de que as bactérias se originavam espontaneamente e esta crença permaneceu até que Louis Pasteur finalmente pos fim à questão através de experiências convincentes realizadas em 1862. Um dos primeiros oponentes à teoria foi L. Spallanzani, que em 1765 demonstrou que o ato de ferver uma infusão de matéria decomposta por 2 minutos, não era suficiente para destruir todos os micróbios; mas quando a infusão era colocada em um frasco hermeticamente fechado e fervido por uma hora, não ocorria nenhuma geração de micróbios ou fermentação, enquanto o frasco permanecesse selado. Apesar de Spallanzani ter provado, para sua própria satisfação, que o poder vegetativo não existe em matéria inanimada, ainda era mantido por alguns, notadamente John Needham (1713– 781) e George Buffon (1707–1788), que o processo de fervura tinha enfraquecido ou destruído a “força Vegetativa”, prevenindo assim que a geração espontânea tivesse lugar.

O ataque à geração espontânea continuou em 1836 com Franz Schulze, que falhou em encontrar evidências de organismos vivos em infusões fervidas nas quais o ar tinha sido admitido após sua passagem através do ácido sulfúrico. Experimentos similares foram conduzidos por Theodor Schwann em 1837. Excetuando-se o fato de o ar admitido ter sido aquecido a temperaturas elevadas, os resultados foram os mesmos, ou seja, nenhum crescimento bacteriano ou fermentação foi observado. Neste ponto é interessante observarmos que Schvann considerava que o processo de fermentação poderia ser freado ou inibido por um agente capaz de destruir fungos, tais como o calor e o Arsenato de Potássio. Devido a esta crença, Schwann é considerado por várias autoridades, o fundador da ciência de desinfecção.

Em 1854, H. Schroeder e T. Von Dusch fizeram contribuições adicionais a favor das forças de oposição à teoria da geração espontânea. Estes pesquisadores empregaram uma nova técnica de admissão de ar no interior de frascos de fervura de infusões, através da filtração do ar por meio de uma camada de tecido de lã. Isto foi feito para combater os argumentos contra possíveis alterações nas propriedades do ar que poderiam ocorrer nos experimentos de Schulze e Schvann, gerando condições desfavoráveis ao suporte à vida. Apesar de os resultados terem mostrado que soluções estéreis foram obtidas por este método, foi provado, mais tarde, que o mesmo procedimento não obteve sucesso na prevenção da fermentação do leite, carne ou ovo, a menos que estes materiais fossem submetidos à fervura prolongada a 100oC, aquecido em um banho de óleo a 130oC ou aquecido no “digestor de Papin”.

No ano de 1859 o problema da geração espontânea permanecia ainda em estado de incerteza. A primeira estaca seria a prova decisiva da presença de micróbios na atmosfera. A controvérsia foi agravada pelo aparecimento de uma publicação intitulada “Heterogenie”, escrita por F. A. Pouchet. Aparentemente, o autor teria repetido os experimentos de Schulze e Scwann e seus resultados foram diametralmente opostos aos achados anteriores. Pouchet também ridicularizou a idéia de que organismos estivessem presentes na atmosfera, sendo este um ponto de vista conflitante com a corrente razoável de Pasteur de que os microorganismos responsáveis pela fermentação viessem de fora do material fermentado.

LOUIS PASTEUR

A fim de conhecermos as contribuições de Pasteur no desenvolvimento da arte da Esterilização, é necessário voltarmos ao ano de 1860. Neste ano Pasteur completou com brilhantismo suas pesquisas sobre a causa microbiana da fermentação e estava pronto para iniciar seus estudos sobre o problema da geração espontânea. Pasteur iniciou seu ataque à teoria da geração espontânea com uma investigação microscópica do ar atmosférico, e com a ajuda dos dispositivos mais engenhosos da época, demonstrou que o ar, em diferentes localidades, diferia em seu conteúdo de microorganismos. Com a disciplina que lhe era peculiar, Pasteur comprovou experiências antigas realizadas por Schwann, Schroeder e Von Dusch, mostrando que após passar o ar através de um filtro de algodão, este continha partículas organizadas similares em aparência a esporos e, se estas articulas fossem introduzidas em fluidos estéreis e nutritivos, era induzida a fermentação. Pasteur mostrou finalmente que a fermentação em infusões fervidas poderia ser prevenida, se o gargalo do frasco fosse prolongado e unido a um tubo em forma de U. Desta forma os organismos e as partículas de poeira presentes no ar poderiam entrar pela extremidade aberta do tubo em U, mas devido a ausência de correntes de ar os microorganismos seriam incapazes de subir pela outra extremidade do tubo para alcançar o conteúdo do frasco. Com este tipo de frasco ele também mostrou que a fermentação poderia ser induzida imediatamente, agitando o aparato de forma a permitir o contato entre a infusão e os organismos depositados do tubo em U. Este experimento foi o maior golpe contra a doutrina da geração espontânea.

A importância desta fase do trabalho de Pasteur pode ser sumarizada no fato de, onde os investigadores anteriores desenvolviam experimentos visando demonstrar a ausência da fermentação em infusões estéreis em contato com o ar livre de germes, Pasteur não apenas fez isso, como também provou que os microorganismos presentes no ar eram, de forma inquestionável, responsáveis pelas mudanças que ocorriam em suas soluções estéreis.

O grande resultado prático desta fase do trabalho de Pasteur não é apenas o fato dele ter posto um fim à controvérsia a respeito da geração espontânea, mas também o fato de suas observações sobre a poluição atmosférica pelas bactérias, terem pavimentado o caminho para a cirurgia anti-séptica de Lister, que revolucionou a prática cirúrgica pelo mundo.

Um dos últimos defensores da doutrina da geração espontânea foi o médico inglês Bastian. Em 1876, Bastian atacou o trabalho anterior de Pasteur, o qual estabelecia que a urina, esterilizada através da fervura, não era suscetível à fermentação e nem mostrava evidências de crescimento bacteriano após incubação. Bastian afirmava que esta esterilidade era obtida apenas sob certas condições e, se a urina fosse tornada alcalina no início, seria observado, frequentemente, algum crescimento bacteriano. Como resultado disso, ficou demonstrado que líquidos ácidos poderiam ser tornados estéreis através da fervura, uma vez que certos organismos não destruídos pelo processo de fervura, eram incapazes de se desenvolverem em meios ácidos. Por outro lado, se o meio fosse tornado levemente alcalino, as bactérias sobreviventes cresceriam e se multiplicariam livremente.

Esta controvérsia com Bastian finalmente levou ao estabelecimento do fato de certos micróbios existentes na natureza serem capazes de resistir a prolongados períodos de fervura a 100oC. Anteriormente acostumado a ferver seus líquidos a uma temperatura de 100oC, Pasteur viu-se forçado a fervê-las agora a temperaturas de 108oC a 120oC, visando assegurar a esterilidade. O costume de levar os líquidos à temperatura de 120oC a fim de garantir a esterilidade data deste conflito com Bastian.

Visando alcançar as exigências de métodos mais efetivos e eficazes de esterilização, a temperaturas mais elevadas do que a de ebulição, Pasteur foi levado a desenvolver novos dispositivos e equipamentos. Durante este período (1876-1880) de avanços nas técnicas bacteriológicas, Charles Chamberland, pupilo e colaborador de Pasteur, foi responsável por desenvolver o primeiro esterilizador à pressão de vapor, ou autoclave, com o qual era possível alcançar temperaturas iguais ou superiores a 120oC.

O equipamento desenvolvido por Chamberland era equipado com uma válvula de segurança e um dispositivo na tampa, que poderia ser aberto para aliviar a pressão gerada pelo aquecimento. O equipamento continha ainda uma pequena quantidade de água e os materiais a serem esterilizados ficavam suspensos acima da água través de prateleiras. Este equipamento pode ser considerado o precursor de nossos esterilizadores modernos.

As pesquisas de Pasteur não se restringiam à fermentação ou à teoria da geração espontânea. Mais importante foi o estabelecimento, e a verificação em laboratório, da verdadeira teoria das doenças causadas por germes. Talvez seja suficiente dizer que a literatura não registra contribuição maior para esterilização do que o pronunciamento feito por Pasteur em 30 de abril de 1878, frente a academia de medicina:

“Se eu tivesse a honra de ser um cirurgião, tão convencido como eu estou dos perigos causados pelos germes de micróbios espalhados pela superfície de cada objeto, particularmente nos hospitais, eu não penas utilizaria instrumentos absolutamente limpos, como limparia minhas mãos com o máximo cuidado e colocaria as mesmas sobre uma chama, e utilizaria apenas esponjas, bandagens e tecidos os quais tivessem sido previamente aquecidos à 130oC – 150oC; utilizaria apenas água que tivesse sido aquecida à temperatura de 110oC-120oC. Tudo isso é facilmente obtido na prática, e, desta forma, ainda teria medo dos germes suspensos na atmosfera ao redor da cama do paciente ; mas observações nos mostram todos os dias que o número desses germes é quase insignificante se comparado àqueles espalhados na superfície de objetos, ou na água mais límpida.”

MICRÓBIO E MICROBIOLOGIA

Em 1878, Charles Sedillot, um cirurgião francês, introduziu o termo micróbio durante uma discussão na academia de medicina em Paris. Sua intenção era criar um termo adequado para descrever um organismo vivo tão pequeno que só pudesse ser visualizado através do microscópio. Na sociedade científica o termo micróbio não ficou muito popular, tendo então dado origem ao termo microorganismo. Pasteur considerava também que o temo bacteriologia era muito limitado, e sugeriu que a nova ciência em desenvolvimento se chamasse microbiologia.

IGNAZ SAMMELWEIS

Um dos primeiros defensores do desenvolvimento de uma barreira aséptica foi o obstetra Húngaro Ignaz Sammelweis. Apesar de saber pouco sobre a causa de doenças causadas pelos germes, é importante reconhecermos que a asepcia pregada por um ponto de vista empírico, inquestionavelmente, salvou as vidas de muitas mulheres das garras da febre puerperal.

Em 1847, na maternidade de Viena, Sammelweis instituiu a regra de que todos os estudantes deveriam lavar suas mãos em uma solução clorídrica de limão e esfregar as suas unhas com uma escova antes de adentrar nas enfermarias ou iniciar exames internos nas pacientes. Com esta simples medida, a taxa de mortalidade em sua enfermaria foi reduzida de 18% em 1847 para 1,27% dos 3.556 pacientes em 1848. O marcante sucesso de Sammelweis na prevenção de febre nas parturientes, infelizmente o distanciou de seus colegas em Viena e Budapeste. A afirmação de que a sujeira das mãos dos médicos era responsável pela transmissão de doenças às pacientes, era uma afronta ao orgulho profissional, tornando sua posição insustentável. Em 1861 Sammelweis publicou “a causa e prevenção da febre puerperal”, mas ele não conseguiu convencer seus críticos da necessidade de lavar as mãos antes do contato com as pacientes puerperes.

A DESCOBERTA DA RESISTÊNCIA AO CALOR DA BACTÉRIA

A história da esterilização seria considerada incompleta, a menos que fosse dado o devido reconhecimento à descoberta das fases de resistência ao calor das bactérias. Por esta contribuição estamos em débito com o físico inglês John Tyndall. Em 1876 ele fez a sua entrada neste campo com uma série de pesquisas devotadas aos fenômenos da fermentação e da putrefação. Antes desta época Tyndall estava voltado para o problema dos germes e poeiras na atmosfera através de um feixe concentrado de luz que ele próprio desenvolveu, realizando uma série de testes para a detecção de matéria suspensa no ar e na água. Tyndall acreditava firmemente que os microorganismos presentes no ar estavam associados a partículas de poeira. Com o auxílio de uma engenhosa câmara de madeira equipada com uma frente e janelas laterais em vidro, através das quais era passado um feixe de luz, ele demonstrou que ar livre de poeira, que não espalhasse o feixe de luz não iniciaria o crescimento em tubos de infusão fervida expostos a ele.

Estudos seguintes realizados por Tyndall revelaram que infusões preparadas com feno velho e seco eram mais difíceis de serem esterilizadas por fervura do que aqueles preparados com feno fresco. Esta observação o levou a investigar extensivamente a resistência ao calor das bactérias. Através de inúmeros experimentos, Tyndall finalmente concluiu que em certos períodos na história da vida de organismos, estes desenvolvem fases de resistência ao calor nas quais fica mais difícil matá-los, mesmo com fervura prolongada. O estágio de resistência ao calor da bactéria, fase conhecida como esporo, também foi detectado por Pasteur e descoberto independentemente pelo botânico alemão Ferdinand Cohn, em 1876.

Fica claro, através das publicações de Tyndall, que o mesmo estava ciente da importância da umidade no crescimento e na destruição das bactérias. Sua análise da importância da transferência de vapor do líquido circundante para a célula da bactéria visando sua destruição é similar à teoria aceita atualmente.

Tyndall deu origem ao método de esterilização fracionada através do aquecimento intermitente. Este método foi originalmente desenvolvido como um meio prático de esterilizar infusões contendo formas de bactérias resistentes ao calor. O processo consistia no aquecimento de infusões até seu ponto de ebulição em cinco etapas consecutivas com intervalos apropriados de espera à temperatura ambiente. O propósito dos intervalos de espera entre os períodos de aquecimento era permitir o tempo suficiente para os esporos bacterianos resistentes mudarem, ou germinarem em um estágio vegetativo mais susceptível.

A esterilização fracionada, que mais tarde ficou conhecida como Tyndalização, foi a precursora do esterilizador por vapor sem pressão idealizado por Robert Koch e seus associados em 1880-1881. O processo de Tyndalização constituiu-se em um importante avanço no desenvolvimento de métodos práticos de esterilização. Sua utilidade e popularidade podem ser comprovadas pelo fato de, nos dias de hoje, este procedimento ser seguido por muitos laboratórios visando a esterilização de meios sensíveis ao calor por 30 minutos, em três dias consecutivos. Tyndall concluiu que na história de vida das bactérias podem haver duas fases distintas: Uma termo-sensível e outra incrivelmente termo-estável.
(continua....)

APRESENTAÇÃO

Meu nome é Marcelo Lessa, sou Engenheiro Eletricista formado pelo Instituto Militar de Engenharia (IME), especializado em Engenharia Clínica e atualmente mestrando do curso de metrologia para a qualidade industrial da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.
Como minha área de atuação é a área hospitalar, decidi conduzir meus trabalhos nesta área, principalmente tendo em vista o fato da cultura metrológica encontrar-se ainda bastante insipiente em relação às demais áreas. Ápós analisar inúmeras opções de tema para dissertação, decidi me dedicar à avaliação da situação metrológica dos esterilizadores, ou autoclaves, existentes nos Estabelecimentos Assistenciais de Saúde.
Com essa idéia em mente, estamos desenvolvendo um sistema de validação de autoclaves composto por Hardware e software, bem como toda uma metodologia adequada, partindo sempre das normas existentes, tanto no Brasil, como em outros países.
Esperamos com o resultado do estudo, apresentar dados que possam despertar a comunidade metrológica, bem como o pessoal da área de saúde para a necessidade de uma acompanhamento metrológico detalhado destes equipamentos fundamentais em qualquer Estabelecimento Assistencial de Saúde.
Ao longo deste trabalho, constatei a dificuldade de se obter material sobre o assunto em português e decidi criar este Blog com a finalidade de coletar, disponibilizar e trocar o máximo de informações possíveis sobre o assunto esterilização e, em particular, esterilização por vapor saturado sobre pressão. Na medida do possível, procurarei traduzir o material coletado e disponibilizá-los para consulta, comentários e debates.
Desde já agradeço a atenção de todos e coloco-me à disposição para dirimir quaisquer dúvidas que porventura estejam ao meu alcance, pois só assim serei forçado a pesquisar e me aprofundar nos estudos.
Saudações a todos,
Marcelo L. Lessa